Crescimento acima do potencial exige atenção da política monetária

O hiato do produto, também conhecido como hiato do PIB, representa a diferença entre o Produto Interno Bruto observado (real), aquele efetivamente registrado por uma economia, e o PIB potencial, que corresponde ao nível máximo de produção que poderia ser alcançado utilizando todos os recursos disponíveis de forma eficiente. Em termos mais simples, o hiato do produto funciona como um termômetro da economia, sinalizando se ela está operando acima ou abaixo de sua capacidade plena. Esse indicador é calculado por meio da seguinte fórmula: (PIB real - PIB potencial) / PIB potencial. A interpretação do resultado pode variar conforme seu sinal. Um hiato positivo indica que a economia está operando acima do seu potencial, o que geralmente está associado a uma demanda aquecida e a riscos de pressão inflacionária. Já um hiato negativo sugere que há capacidade ociosa, ou seja, a economia está produzindo menos do que poderia, o que tende a reduzir a inflação. Quando o hiato está próximo de zero, entende-se que a economia está operando em equilíbrio, utilizando plenamente seus recursos sem gerar distorções inflacionárias ou desemprego excessivo. A importância do hiato do produto é significativa tanto para a análise da economia quanto para a formulação de políticas macroeconômicas. Para os formuladores de política monetária, como o Banco Central, o hiato é uma ferramenta essencial. Ao indicar se há pressões inflacionárias ou deflação, ele ajuda a orientar decisões sobre a taxa básica de juros, bem como outras medidas destinadas a conter a inflação ou estimular a atividade econômica. Um exemplo ajuda a ilustrar esse conceito. Suponha que o PIB real de um país seja de R$ 10 trilhões, enquanto seu PIB potencial é estimado em R$ 9,5 trilhões. O hiato do produto, nesse caso, seria de aproximadamente 5,3%. Isso revela que a economia está operando acima de sua capacidade produtiva de longo prazo, o que pode gerar desequilíbrios, como aumento nos preços e pressão sobre os salários. É importante destacar, no entanto, que o cálculo do hiato do produto envolve incertezas, uma vez que o PIB potencial é uma estimativa e não um dado diretamente observável. Por essa razão, diferentes metodologias podem produzir resultados distintos. O próprio Banco Central do Brasil utiliza uma análise combinada de doze métodos diferentes para estimar esse indicador, tentando reduzir margens de erro e captar melhor o momento da economia. No contexto brasileiro recente, o hiato do produto tem se mantido positivo. No primeiro trimestre de 2025, o indicador continuou refletindo uma trajetória de crescimento acima da capacidade produtiva do país, algo que já se prolonga por sete trimestres consecutivos. Trata-se do maior hiato positivo registrado em quase três décadas. De acordo com dados do Banco Central, o hiato no quarto trimestre de 2024 foi de 0,8%, e a projeção para o primeiro trimestre de 2025 aponta para uma leve redução, com o indicador permanecendo positivo, em torno de 0,6%. O resultado estimado pelo Banco Central para o hiato do PIB positivo faz com que o Comitê de Política Monetária continue com uma política monetária mais restritiva, para conter a pressão inflacionária e fazer com que a economia volte a ter uma trajetória mais equilibrada do seu crescimento. Enquanto os estímulos fiscais continuarem, com juros altos, o problema não será resolvido, pois a demanda continuará aquecida, mas a oferta terá dificuldades em atender, com um custo financeiro mais alto.

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