7. tríptico circense: a pirâmide humana

tríptico circense: a pirâmide humana eis os pés dos homens fortes sobre a serragem do picadeiro a milhares de quilômetros do núcleo negro da orbe de ferro e níquel líquidos — inalcançável / presente — que em rotação teórica revolve sucessivamente véus e capas do planeta por sobre cuja crosta agora apoiam-se calejados os pés dos homens fortes assim começa a pirâmide que seria de fato um triângulo não fossem — são? — os homens tão tridimensionais já há toda uma fileira erguida do solo — suspensa tornaram-se seres sem peso sobre bestas musculosas cujos pés fixam o globo e constituem aqui o seu eixo nenhum contato com a sombra provocada por mil holofotes tão somente um éter sutil os liga à terra quente percorre imperceptivelmente coxas de sangue e músculo e vêm novos homens — ainda sua escalada é ainda mais árdua demanda grande equilíbrio grande concentração grande e paradoxal respeito pela gravidade e seus efeitos (a érea base não se abala sob esta aérea compressão há pilastras nos pés destes homens que decerto vão ao centro — animam-nos influxos fundidos de metal bruto em movimento brilha em seus olhos fixos resquício de lava e noite seus corpos no entanto são mármore — imóvel constructo) sucedem-se cada vez menos homens cada vez mais aéreos — etéreos e esguios — divinos e em seus olhos cada vez menos bruxuleia um traço de magma no topo enfim uma virgem rígida frígida ressurrecta impecável — seu corpo sem peso tão próximo do ar viciado da abóbada (a pirâmide humana — castelo de cartas — não distribui força vital sorte daqueles que têm seus pés junto à serragem)

There are no comments yet.

Please log in to write the first comment.