Cristina Reinhardt

Ele publicou o livro Ecocídio e outros tantos que apontam o papel decisivo do agronegócio brasileiro na devastação ambiental e na emissão de gases do efeito estufa. Ele nem produz alimentos, ele produz commodities. Basicamente, as commodities, no caso, por exemplo, da soja, não é nem para alimentação humana, é para alimentação de rebanhos. Então, se você diminuísse claramente esses rebanhos,

você teria um enorme ganho de sustentabilidade. Então ele nem é produção de alimento, ele produz uma coisa chamada commodity, cujos preços não estão dados pela relação com a comunidade, mas são estabelecidos por especulação financeira na bolsa de mercadorias e futuros lá de Chicago.

Vem do gado, bovino e vem do desmatamento. Se você somar os dois, te dá 75% das emissões. Então, se você tivesse condições de descontinuar o agronegócio, o Brasil seria o país mais sustentável do ponto de vista das emissões de gás de efeito estupro, porque apenas 25% das nossas emissões provém de outras atividades que não é o agronegócio.

A gente não evoluiu socialmente para isso. Então, é o maior problema que a humanidade já se defrontou. Como ela renuncia a uma ideia que foi profundamente inoculada nela, segundo a qual, em tempos imemoriais, mais é melhor. E é fato que mais é melhor. Se você tem

Num mundo dos nossos antepassados, se você tinha dois paióis de milho, é melhor do que ter um, né? Porque se dá uma quebra de safra, você tem mais garantia, você tem mais segurança alimentar. Então, mais era obviamente melhor. Óbvio, a partir de um certo momento, mais passa a ser pior. E isso não é papo de ciências humanas não, tá? A Cristina, que é engenheira de alimentos, também trouxe o tema na entrevista dela.

Não, eu não acho nem que uma coisa é nem outra, né? Nem a humanidade, nem o mundo vai acabar. O que vai acontecer num espaço de tempo que nos interessa, ou seja, ao longo desse século, mas sobretudo no próximo decênio e nos próximos dois decênios, vamos dizer até meados do século, é uma incapacidade crescente das sociedades de manterem a sua funcionalidade, ou seja, de manterem uma segurança alimentar, hídrica, sanitária,

Então a sociedade começa a se desorganizar, ela não é mais capaz de fornecer aos seus cidadãos, os seus cidadãos não são capazes de se fornecerem um mínimo de segurança alimentar, hídrica, etc, sanitária, etc.

Não é assim, você cai no precipício, bate numa parede. Colapso é um processo. É um processo que vai se configurando de uma maneira cada vez mais inevitável, incontornável, mais evidente. É nessa trajetória que a gente está.

Se não fosse o processo de negociações começou lá na primeira COP em Berlim, na Alemanha, e isso em 95, a média de aquecimento do planeta estaria maior do que está agora, por exemplo. A cada momento sucessivo, a nossa capacidade de reação é menor, mas ela nunca é zero. Certo? Então, hoje, nós já sabemos que um aquecimento médio global de 2 graus Celsius acima do período pré-industrial é inevitável.

Não tem. Se você não emitir mais nenhum grama de CO2 hoje, a inércia do sistema climático leva a que 2 graus Celsius vai ocorrer. Mas é melhor 2 graus Celsius do que 2,1. 2,5 é melhor do que 2,6 e assim por diante. Então é sempre, a cada décimo de grau que a sociedade consegue de alguma maneira evitar, aumenta a chance de dilatação dela. Enquanto que fim do mundo, acabou.

Acabou, vamos dar uma cervejinha aí, vamos comemorar, certo? Não é um meteoro, certo? Não é um meteoro.