22. anacronia

anacronia o anjo da história voa a contrapelo um dia se rirão meus netos de minha enorme anacronia (se um dia os tiver) veremos juntos filmes (ou algo assim) e exclamarei se ainda for possível a exclamação sim era assim mesmo assim comíamos falávamos assim lavávamos as mãos e já naquela (minha) época era inegável a sensação de viver um tempo morto passado que não se atualiza embora feérico nunca chega ao agora sempre parece prestes a pegar bolor prestes a se esgarçar de roto à beira de não fazer sentido de ser taxado datado uma enorme idiossincrasia coletiva sim já naquela (minha) época nos sentíamos (eu) assim mas nunca acessarão jamais estes meus netos imaginários estes até prováveis meus netos bisnetos não saberão (talvez saibam) que em meio à planificação anacrônica à idiossincrasia estabelecida a essa sensação de viver (?) inexoravelmente num passado sempre um passo atrás de algo talvez a vida (olhando o anjo da história nos olhos cansados porém estatelados como quem diz em silêncio com o silêncio somos nós anacrônicos anacoretas) jamais saberão (talvez saibam) que nessa desolação nessa existência meio sépia nessa sensação de que tudo é pronto e plano nessa maneira de filtrar a vida de instalá-la na anacronia deste poema que já nasce no passado que nessa minha situação atual na atual tentativa havia também uma vizinha que secava os cabelos e reclamava dos filhos um moleque ostentava gasolina e voava uma mamangaba

There are no comments yet.

Please log in to write the first comment.