3. acrílico e diamante

acrílico e diamante I queremos dissecar diamantes com instrumentos de acrílico. há ritmos obscuros no interior da terra. por sobre a crosta, depositamo-nos: lençóis arqueados, abafamos o chamado aflito proferido no idioma mais sutil — sutil demais para nossa investida surda. acolhemos pretensiosamente o mundo encharcado em nossos próprios hálitos. II mesmo que os confusos prolongamentos dos nossos dedos e nossos olhos e nossa língua penetrem a carne do mundo, mesmo que nossas sombras se alonguem infinitamente sobre o asfalto, mesmo que a música tonal faça vibrar os quartzos tanto quanto um enxame de abelhas, só somos capazes de habitar nossos próprios e perecíveis perímetros, e seus confusos prolongamentos misturam-se só contagiosamente com os fluidos escuros do mundo. III lamentamo-nos. reconheçamos nossa precariedade. celebremo-la. é nossa única e melhor morada. parâmetro. e medida inventada. joguemos. forcemos o contato; a mistura possível — sistema bifásico — diluirá na incerteza de seus átomos a precisão das fronteiras. misturar-se é recolher-se e ouvir — naufrágio redentor da nau humana no sistema vascular das estrelas. o jogo é silencioso e incerto — peças d’água, tabuleiro diáfano e regras estocásticas: cravar olhos cerrados no interior do nada. abrir-se, desfolhar-se — alforria última, máxima —, é nosso instrumento de luz. IV assim penetramos o diamante em infinito fractal e já não há espanto. agora energia, a massa mínima da estaca de acrílico cruza-o, atravessa-o e o incandesce. seu brilho é imensurável. a velocidade nos ultrapassa. vibramos então com o mundo e nossa voz é enfim diamante — pirofágica e pirotécnica, explode num círculo de areia, existindo em desfazer-se.

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