Fernando Yunes

os bombeiros tinham interditado já o entorno, eu parei o carro, fui a pé, e aí quando eu cheguei, aquele prédio escuro, com as janelas quebradas e saindo fumaça preta, e aí eu perguntava dos dois e o pessoal ali falava, putz, todo mundo que estava no segundo andar não conseguiu sair, não estamos encontrando eles.

Aí eles faleceram e todos os gerentes da TAM Express estavam na mesma reunião com eles e eu não estava na reunião porque eu saí do prédio e o diretor da TAM Express, eu esqueci o sobrenome dele, mas chama Marcelo, às seis da tarde ele chegou para participar da reunião

E aí como eu não estava na reunião, ele falou... Bom, já que o Yunis não está, vocês fazem... E amanhã vocês apresentam para mim e para o Yunis. Então ele saiu assim... Na quase... E tu também, né? É, eu saí algumas horas antes... E aí eu estava noivo...

e a gente estava num relacionamento há seis anos, e os dois já não estavam bem, a gente era super amigos, mas não estava mais, acho que os dois não tinham certeza de dar o próximo passo e casar, e aí com o acidente foi um momento de repensar e falar, putz,

vamos terminar, e aí a gente terminou. Pensou muito por pouco isso aí, cara, deve ser um momento de parar e repensar tudo mesmo. Foi meio isso, porque daí na vida pessoal os dois foram por outros caminhos, e aí eu fui de férias para a Espanha com um irmão e um primo,

E aí, 20 dias, no último dia, eu estava correndo na praia e aí eu escutei, Yunis, Yunis. Daí eu falei, caramba. Eu olhei para trás e veio uma menina correndo. Daí ela falou, ah, lembra de mim? Eu sou a Cícia, irmã do Cadu. Daí eu falei, nossa, lembro. Ela falou, o que você está fazendo aqui? Eu falei, putz, teve um acidente. Aí contou a história. Contei a história. Eu falei, e você?

Daí ela falou, putz, eu estava noiva, faltavam três dias para o casamento, a gente se desentendeu três dias antes e resolveu não casar, eu peguei uma amiga e viemos aqui para passar um tempo na Europa. E aí, de coincidência, a gente se encontrou ali, e é minha esposa até hoje, a gente tem duas filhas, a Luísa e a Olivia, Luísa de 12 e Olivia de 15,

E aí, na sequência, eu saí da BEM, porque as consultorias são uma escola de gestão, de pensamento estratégico, analítico. Cada projeto é um problema diferente, num setor diferente, com líderes diferentes.

Mas pode ser muito intenso. Podem ser muitas horas e cada projeto pode ser numa cidade diferente. Estou entendendo. E aí eu falei, pô, quero também ter uma estabilidade e vou mudar de uma carreira de consultor para buscar ser um executivo. E aí nesse momento saí também da BEM e fui para a Whirlpool. Fiquei 10 anos na Whirlpool. Vendendo geladeira? Geladeira, fogão, lavadora, ar-condicionado. Quais são as marcas da Whirlpool?

Brastemp e Consul. E tinha KitchenAid também, pros portáteis. Batedeira... Não tem ar-condicionado na Whirlpool, não? Tem. Tem da Consul e da Brastemp. A Consul, é verdade.

E tem que responder para a empresa, o objetivo do projeto é decidir se entra naquele mercado ou não entra, ou se compra aquela empresa ou não compra, ou como reduzir tanto de custo da empresa.

como mudar a estrutura organizacional para melhor atender aquele mercado. Então, desde questões estratégicas, em três meses, pô, mas você tem os executivos da empresa ali, né? E, de repente, um grupo com pessoas, muitos jovens, tem que entrar e aprender, estudar o que existe em outros mercados e olhar projetos antigos e trazer uma solução que a empresa vai falar, caramba, gostei, é...

Vamos fazer mais um projeto? Agora eu quero que você me ajude naquele outro. Mas foi um puto desaprendizado. Meu primeiro projeto foi o período que eu mais trabalhei na minha vida. Eu me formei, entrei dia 5 de janeiro na Itikerni e tinha um chefe que era um americano, a pessoa mais workaholic que você pode imaginar. E no dia que eu entrei no projeto, ele...

Ele falou, prazer, Robert. Eu falei, prazer, Robert. Fernando, a segunda frase dele foi, eu tenho uma boa e uma má notícia para você. Eu falei, fala. Ele falou, a boa notícia é que eu não trabalho aos sábados. A má notícia é que eu trabalho todo domingo. E, cara, eu trabalhei por quatro meses, de domingo a sexta. O projeto era em Brasília.

Domingo a gente trabalhava de umas 10 da manhã às 6 da tarde, era um dia light. E aí na segunda pegava o voo 6 e 15, então tinha que acordar 4 e meia. 6 e 15 é para Brasília, trabalhava até umas 10 da noite, também era um dia light. Terça, quarta e quinta a gente trabalhava até 2, 3 da manhã.

a gente não saia da sala. Meu Deus. O almoço era um x-salada com Coca-Cola e o jantar era pizza todo dia. E esse cara me chamava às vezes uma da manhã para falar... Era na Brasil Telecom e eram vários prédios de um andar. Um gramado, bem amplo o campus ali. Às vezes meia-noite, uma da manhã, ele falava, Fernando, Fernando...

vamos dar uma volta, saía com ele e ele ia me dar feedback, meia noite, cara, isso aqui, this is your baby, você tem que tomar conta do bebê, o bebê não está bem cuidado, não tem qualidade o suficiente o que você está fazendo, então ele ao mesmo tempo colocou em mim,

além do desespero e da raiva, um lado de excelência, de atenção aos detalhes e de ownership. Nossa, eu sinto que isso falta bastante. Ele passou pra mim... Demorou pra eu entender que, pô, é meu. A responsabilidade é minha. Eu preciso olhar de ponta a ponta. Não posso deixar um erro. Então ele... Ele me fez...

é sofrer, mas aprender.

a ter um nível de atenção aos detalhes muito grande. Tiveram chefes que foram muito pelo lado estratégico, de sair do detalhe, dar um passo atrás, qual que é o big picture. Então, de cada um você vai aprendendo e na Whirlpool foi muito de liderança, de gestão, com o Drummond, com o Brega, que foram líderes ali muito fortes e com exemplos que na BEM também, o Stefano, além do André, o Carlos Miguel, são pessoas que